Ao homem mais belo do mundo
Inventei-te porque não estavas e a casa chorava a tua ausência
Inventei-te com toda a beleza que guardei na polpa dos meus dedos
E gozei-te como a um deus pagão
Tive de inventar-te juntando pedaços desordenados
Uma mão e uma nádega, dentes e lágrimas, bocas e pés
E letras presas nos livros, heróis, anjos e demónios, suspiros e delírios
Marchetei-te os meus silêncios e arquitectei réplicas aos meus anseios
Pus ainda em ti toda a ternura de que sou capaz
Desenhei-te depois olhos de lua nova e cerrei-te os lábios com a chave mestra dos meus beijos
Prendi-te a mim em cachos de cegueira, enquanto mariposas te ofereciam asas para que navegasses na ausência de ti
Pintei-te numa paisagem onde vibravam orquestras de cigarras e o suor escorria no verão dos corpos
Eras perfeito na tua viuvez!
Amei-te depois assim, num puzzle desordenado, com caras sobrepostas e duas mãos esquerdas a segurar-me os seios
Amei-te à pressa deixando cair no chão as peças do teu rosto
Como um puzzle que se desfaz, feito de cacos de beleza
E ordenei que me amasses
Então morreste-me como um Narciso que se afoga na própria imagem