Escrevo para não sucumbir ao medo.
Escrevo para exorcizar o frio.
Escrevo porque preciso do abraço do vosso olhar clemente.
Escrevo quando a vontade é mais urgente que a chuva a bater nos rins do tempo. Escrevo porque tenho fome de devorar as palavras e nelas me entrego como se as matasse.
Escrevo porque tenho sede e a água pura me é negada.
Escrevo pelos nus, pelo pudor e pelo pão.
Escrevo porque me foram dadas mãos que suam de inquietude.
Escrevo a curva do ombro que carrega o pranto.
O mel dos figos, a ternura das manhãs e a inocência dos pássaros.
Escrevo para cravar de sonhos o diamante cego das horas.
Escrevo para adiar a morte.